Uma toalha manchada de café,
outra de vinho, uma peça de roupa encardida de terra, uma calçada suja de amora
madura... Na hora do almoço, uma beterraba tinge nosso prato e a salada de
repolho roxo fica cor-de-rosa ao ser molhada com limão...
Estamos rodeados de elementos coloridos, de Tintas Naturais, que podem ser conseguidas com coisas simples como as citadas acima ou podem depender de um longo e complicado processo de obtenção.
Estamos rodeados de elementos coloridos, de Tintas Naturais, que podem ser conseguidas com coisas simples como as citadas acima ou podem depender de um longo e complicado processo de obtenção.
A natureza oferece matéria-prima
abundante para a produção de tintas. Seriam elas duráveis? Dificilmente. Seriam
mais baratas? Na maioria das vezes. Atóxicas? Nem sempre. Porém, apesar de
tantas incertezas, trabalhar com elas é extremamente gratificante.
Por tintas naturais entendem-se
tintas obtidas da natureza, que, como as demais, são compostas basicamente por
pigmentos e aglutinantes, possuindo características de opacidade ou
transparência.
Tintas naturais transparentes são aquelas semelhantes às anilinas, que se dissolvem na água ou nos aglutinantes, colorindo-os sem formar pasta. As opacas são formadas por pós que, adicionados aos aglutinantes, formam massas mais ou menos espessas; são muito estáveis e possuem grande capacidade de cobertura.
Tintas naturais transparentes são aquelas semelhantes às anilinas, que se dissolvem na água ou nos aglutinantes, colorindo-os sem formar pasta. As opacas são formadas por pós que, adicionados aos aglutinantes, formam massas mais ou menos espessas; são muito estáveis e possuem grande capacidade de cobertura.
História
Há alguns séculos, o termo
"tinta natural" não existia, pois toda tinta provinha da manipulação
de elementos naturais e aquilo era simplesmente "tinta". A distinção
entre tinta natural e artificial só viria a ser feita por volta de 1856 quando
se obteve uma tinta feita somente por compostos químicos manipulados em
laboratório.
As primeiras tintas que temos notícias são das pinturas pré-históricas feitas em cavernas (30.000 - 8.000 a.C.). Foram feitas utilizando-se terras coloridas, pó de rochas, carvão vegetal e colas vegetais e animais. Como as terras e rochas são pigmentos altamente duráveis e as pinturas estavam protegidas das ações do tempo, elas conservaram-se até hoje.
As primeiras tintas que temos notícias são das pinturas pré-históricas feitas em cavernas (30.000 - 8.000 a.C.). Foram feitas utilizando-se terras coloridas, pó de rochas, carvão vegetal e colas vegetais e animais. Como as terras e rochas são pigmentos altamente duráveis e as pinturas estavam protegidas das ações do tempo, elas conservaram-se até hoje.
Cerca de quatro mil anos atrás,
havia poucos corantes e estes eram muito caros. Alguns corantes de que se tem
notícia naquela época eram o azul índigo ou anil (retirado da planta Indigofera
tinctoria), o vermelho provinha da raiz da Rubia tintorium, chamada de ruiva
dos tintureiros por ser usada pelos mesmos (na pintura artística, esta cor
ficou conhecida como alizarina), o violeta era obtido a partir de moluscos
(Murex trunculis e Murex brandaris). Este era um corante caro devido à alta
quantidade necessária de moluscos para produzir tinta: dez mil moluscos
equivaliam a um grama de cor (por volta de 1300 d.C., estes moluscos entram em
extinção e a cor então passa a ser retirada de um líquen).
Na Índia, o açafrão da terra
(Curcuma longa) era largamente utilizado para produzir a cor amarela dos mantos
dos monges budistas. O açafrão verdadeiro (Crocus sativus), utilizado no século
XIX, também produz uma cor amarela vibrante, mas sua extração é muitíssimo mais
complicada, além da cor ser fugaz. No açafrão da terra, a cor é retirada das
raízes, e no açafrão verdadeiro, dos estigmas das flores, sendo necessárias
mais de 250.000 flores para se obter meio quilo de açafrão. Portanto, fazer
tintas sempre foi um processo demorado e com custos altos. Devido a isso, as
cores eram símbolo de nobreza: os ricos usavam cores e os pobres usavam roupas
sem tingimento.
No século XII d.C. a pedra lápiz
lázuli era utilizada como fonte da cor azul ultramar mas seu uso foi constatado
desde 3.000 a.C. em afrescos da Sumária. Como a pedra é semi-preciosa, este era
um pigmento muito caro e difícil de ser encontrado. No fim do século XV,
exploradores europeus ganharam a América e a Índia de onde trouxeram novos
pigmentos, como o amarelo indiano. Os incas, maias e astecas extraíam o carmim
de um pequeno inseto (cochonilha) o que é utilizado até hoje como corante
alimentício. Pouco depois, houve o descobrimento do Brasil e a exploração das
nossas riquezas. O Pau-Brasil, fonte de cor vermelha, passou a ser utilizado na
Europa como uma grande novidade, embora aqui fosse muito conhecido pelos
indígenas.
Outra tinta utilizada por várias
tribos indígenas brasileiras provém do urucum. Entre os índios brasileiros era
denominado uru'ku, cujo significado é 'vermelho', em referência à cor do
revestimento de suas sementes. Este pigmento era considerado por eles tinta
sagrada de rito e magia. O urucum era usado na pintura dos recém-nascidos e das
meninas, (por ocasiões da primeira menstruação), assim como em cerimônias
nupciais, rituais antropofágicos, de sacrifícios de prisioneiros, ritos
funerários, e na pintura dos ossos em cerimônias de exumação. Entre os índios,
o pó das sementes era considerado afrodisíaco e um antídoto para o veneno da
mandioca.
No século XVII, a pintura a óleo
ganha popularidade e as tintas são produzidas manualmente. Nos ateliês de
grandes artistas, sempre havia um auxiliar encarregado de moer e preparar as
tintas.
Desde o início do século XIX muitos pigmentos foram ganhando seus equivalentes químicos como, por exemplo, o azul ultramar. "Devido ao alto custo do Lápis Lázuli, inúmeras pesquisas foram feitas, sendo descoberto por J.B. Guimet em 1826 e comercializado para os artistas a partir de 1826".
Curiosidade:
Desde o início do século XIX muitos pigmentos foram ganhando seus equivalentes químicos como, por exemplo, o azul ultramar. "Devido ao alto custo do Lápis Lázuli, inúmeras pesquisas foram feitas, sendo descoberto por J.B. Guimet em 1826 e comercializado para os artistas a partir de 1826".
Curiosidade:
O amarelo
indiano tinha um processo de extração curioso. Era feito de urina de vacas que
haviam se alimentado apenas com folhas de manga, sem beber água. A essa urina
juntava-se um pouco de terra, esta mistura era esquentada e seca para então
depois ser dividida em torrões que eram vendidos. Como isso era muito penoso
para os animais, sua produção foi proibida no início do século XX.
Em 1856 o químico inglês Sir William Perkin
descobre o primeiro corante sintético em laboratório. A partir desta descoberta, muitas pesquisas
foram desenvolvidas e cada vez mais os corantes artificiais passaram a ocupar o
lugar dos naturais. Em 1868 a Alizarina ganha seu equivalente químico e em 1880
é a vez do azul índigo.
Na metade do
século XX surge a tinta acrílica. Nos laboratórios, novas cores continuam a
ser descobertas e criadas, como as tintas fosforescentes. Na década de 80 havia
3 milhões de cores disponíveis. Na década de 90, Estados Unidos, França e
Inglaterra proíbem o uso de corantes químicos nas indústrias de alimentos e
cosméticos.
Características
das Tintas Naturais
A natureza oferece matéria prima abundante
para a produção de tintas. Algumas
delas estão em nosso jardim (como as flores e a terra) e acabam passando
despercebidas. Ou estão na nossa cozinha: beterraba, repolho roxo, chás
variados (inclusive de caixinha).
Podem-se encontrar diferentes
materiais de acordo com a época do ano (flores, frutos, folhas e sementes)
conforme o ciclo de germinação das plantas. Das plantas são obtidos pigmentos
de várias partes: raiz, caule, casca, folhas, flores e frutos. Os pigmentos das
flores são luminosos (claros e coloridos), porém muito instáveis e voláteis. Já
os da raiz são mais estáveis e duradouros, apesar de menos luminosos. Os
corantes do caule e das folhas encontram-se como intermediários entre esses
dois extremos. E os pigmentos minerais (as terras e pedras) são os mais
duradouros. As flores, folhas ou raízes podem ser usadas frescas ou secas.
Geralmente quando secas possuem a cor mais concentrada. Daí a seguinte
equivalência, descrita por Eber Lopes Ferreira em seu livro "Corantes
naturais da flora brasileira":
1 kg de flor seca = 3,5 kg de
flor fresca
1 kg de folha seca = 2,5 kg de folha fresca
1 kg de raiz seca = 1,5 kg de raiz fresca
1 kg de folha seca = 2,5 kg de folha fresca
1 kg de raiz seca = 1,5 kg de raiz fresca
O pó de alimentos desidratados e
moídos (beterraba, espinafre e açafrão, por exemplo) também pode ser usado na
produção de tintas. E as tintas provenientes dos vegetais são líquidas e
transparentes. Já as provenientes dos minérios ou pó de alimentos são densas e
opacas.
Pigmento
É o nome comum dado a várias substâncias que dão coloração aos líquidos ou aos tecidos vegetais ou animais que as contém. Os pigmentos podem ser extraídos da natureza ou produzidos em laboratórios, sendo responsáveis pela cor da tinta. Desde os primórdios da arte, as cores eram compostas por elementos extraídos do reino animal, vegetal e mineral, fontes inesgotáveis de pigmentos orgânicos e inorgânicos. Os pigmentos naturais são aqueles encontrados nos vegetais, animais e minerais.
É o nome comum dado a várias substâncias que dão coloração aos líquidos ou aos tecidos vegetais ou animais que as contém. Os pigmentos podem ser extraídos da natureza ou produzidos em laboratórios, sendo responsáveis pela cor da tinta. Desde os primórdios da arte, as cores eram compostas por elementos extraídos do reino animal, vegetal e mineral, fontes inesgotáveis de pigmentos orgânicos e inorgânicos. Os pigmentos naturais são aqueles encontrados nos vegetais, animais e minerais.
Os pigmentos vegetais, também
chamados de corantes, são extraídos de folhas, flores, sementes, cascas,
troncos e raízes, através de diversos processos. Alguns são menos resistentes
que os pigmentos minerais, pois a ação do calor, da umidade, do ar e dos gases
da atmosfera causa-lhes modificações. Destacam-se os carotenóides e a
clorofila: os caratenóides são os corantes responsáveis pela coloração amarela,
vermelha e alaranjada das folhas, flores e frutas, caules e raízes; a clorofila,
por sua vez, é que confere a cor verde às plantas.
Os pigmentos naturais extraídos
de frutas e de elementos vegetais testados e aprovados têm também aplicação em
alimentos, como sucos, doces, sorvetes, molhos. São usados, igualmente, no
preparo de cosméticos, sabonetes, batons, perfumes e em algumas tintas que
servem para tingir cabelos. Os pigmentos minerais mais comuns são os óxidos de
ferro e as ocas, variando do amarelo ao vermelho-arroxeado até o quase preto,
dependendo do maior ou menor grau de oxidade do mineral.
Processos de Obtenção
Tinta é uma mistura de dois elementos: pigmento (ou corante) e aglutinante. O pigmento é o que confere cor à tinta, e o aglutinante é o que une as partículas fazendo a tinta aderir à superfície. Existem diferentes aglutinantes e por consequência, diferentes tipos de tinta: óleo, cola, goma, ovo, etc.
Tinta é uma mistura de dois elementos: pigmento (ou corante) e aglutinante. O pigmento é o que confere cor à tinta, e o aglutinante é o que une as partículas fazendo a tinta aderir à superfície. Existem diferentes aglutinantes e por consequência, diferentes tipos de tinta: óleo, cola, goma, ovo, etc.
As tintas naturais podem ser
obtidas por diversos processos abaixo relacionados. Depois de obtido o pigmento
ou o corante, mistura-se o aglutinante.
Pigmentos
Líquidos
Cocção:
Cozinhar a matéria-prima, até que a água adquira sua cor. Podem ser cozidos
repolho roxo, beterraba, erva-mate, café, casca de uva preta, de jabuticaba e
de pinhão, hibisco, rosas, etc. O líquido colorido pode ser aplicado diretamente
no papel, mas um pouquinho de cola lhe dará maior resistência ao tempo;
Maceração: Consiste em deixar a matéria-prima de molho
na água fria, por volta de 12 horas. Este tempo é estipulado para inverno ou
meia estação, no verão deve ser deixado por menos tempo, senão começa a
fermentar. São macerados café, erva-mate, feijão preto, etc. Usar puro ou com
aglutinante;
Infusão:
Os elementos são picados e deixados em infusão no álcool até atingirem o seu
ponto máximo de cor, cujo tempo varia (minutos, dias, semanas). Quanto mais
tempo em infusão, melhor. Podem ser colocados em infusão: pétalas de diversas
flores, folhas, raízes, semente de urucum, lascas de madeira, repolho roxo,
beterraba, etc. Algumas infusões (como as pétalas de rosas) dão líquidos quase
incolores, e sua cor só aparece depois de algum tempo de colocada no papel.
Algumas folhas verdes dão cores alaranjadas. O corante obtido pode ser aplicado
puro ou com cola. Neste caso, torna-se visguento e para limpar o pincel deve-se
usar álcool, e nunca água;
Fricção:
A fricção, como o próprio nome diz, consiste em friccionar elementos
diretamente sobre o papel. São friccionadas as plantas que contém uma
quantidade razoável de água, principalmente pétalas coloridas. Flores ou
folhagens podem ter uma cor por fora e outra por dentro;
Liquidificação: Bater em liquidificador com água. Folhas
verdes (espinafre, rúcula, salsinha), beterraba, repolho roxo, pétalas de
flores, etc. Usar puro ou com aglutinante.
Existem, nas regiões do Brasil,
outros vegetais dos quais se extraem cores: o índigo ou anil é extraído das
folhas do anileiro quando maduras; o vermelho do pau-brasil produz uma tinta
vermelha muito usada pelos indígenas para colorir o corpo.
Noutros países do sul da Europa e
países do Oriente, a ruiva dos tintureiros (Rubia tinctorum) desempenhou papel
importante como promotora da cor vermelha, sendo muito cultivada na
Antiguidade. Também no Oriente, África do Norte e até na Índia, utiliza-se
ainda hoje a hena (Lawsinia inermis), tinta para colorir os cabelos, processo
que consiste na secagem e redução das folhas a pó, que já ficam prontas para o
uso. A partir das fêmeas do inseto cochonilha (Dactylopius croccus (Costa)),
colhido de uma espécie de cactus que se desenvolve principalmente no Peru,
extrai-se o carmim, uma cor muito estável.
Pigmentos em
pó
Trituração: carvão, giz, cascas de ovos, tijolos,
urucum, café e outros são moídos até serem reduzidos a um pó muito fino;
Calcinação: ossos, sementes, madeiras são queimados e
reduzidos a carvão, o qual, após sofrer trituração, é reduzido a pó. O carvão
também poderá ser usado de forma compacta para grafar;
Peneiramento e Decantação: pedras e tijolos triturados devem passar
pelo processo de peneiramento através de telas ou malha de meias de náilon
esticadas. No caso das terras, devem ser peneiradas (para tirar os grãos
maiores, pedrinhas e impurezas) e postas para decantar em água. Escorre-se a
água, utiliza-se a lama de cima e descarta-se a de baixo, que contém os grãos
mais grossos. Quanto menor a partícula
de pigmento, melhor seu poder de cobertura, pois a tinta fica mais
uniforme. O aglutinante para terra pode ser cola, goma (polvilho, trigo,
maisena), ovo ou óleo.
Lixação:
madeiras como cedro, pessegueiro, canjerana, louro e outras, quando lixadas,
são transformadas em pós muito finos, de diversas cores. Os pós obtidos podem
ser usados puros nos aglutinantes ou em associações entre si;
Imersão:
os pós contidos dentro de uma trouxinha de tecido são submergidos em movimentos
contínuos por várias vezes na água de cinco recipientes, passando de um ao
outro. Com isso, os pós ficam depositados no fundo dos recipientes, então,
basta escorrer lentamente a água que estarão prontos para o uso.
A produção dos pigmentos em pó permite que se
façam três tipos de têmpera:
1- têmpera-cola: os
pigmentos são adicionados às colas sintéticas, compostas de acetato de
polivinila, formando uma tinta resistente;
2 - têmpera-goma: é obtida pela adição dos pigmentos à goma de polvilho ou arábica. É menos resistente que a têmpera cola;
3 - têmpera-ovo: os pós das terras e das ocas podem ser adicionados à gema ou clara de ovo, resultando numa tinta de boa consistência que, à medida que seca, adquire brilho, se for com clara, e suave aveludado, se for com gema.
2 - têmpera-goma: é obtida pela adição dos pigmentos à goma de polvilho ou arábica. É menos resistente que a têmpera cola;
3 - têmpera-ovo: os pós das terras e das ocas podem ser adicionados à gema ou clara de ovo, resultando numa tinta de boa consistência que, à medida que seca, adquire brilho, se for com clara, e suave aveludado, se for com gema.
Pelo acréscimo de óleo de linhaça
aos pigmentos em pó, é possível obter-se a tinta à óleo, tal como procediam os
pintores renascentistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário